Não faltará muito para este blogue fazer 10 anos.
Quando o iniciei só havia baby blogs, cor de rosa ou azuis, mas sempre de bebés perfeitos. Senti-me muito um peixinho fora da água.
Foi preciso uma certa dose de coragem para me expor. Alguns desabafos, sempre alternando o otimismo com os dias menos bons. Como o era na verdade.
Um boa dose de instabilidade como é tão típico nas mães especiais. Somos aquelas que precisam, também de colo, por muito tempo ou mesmo para sempre.
Na vida profissional precisei de continuar a ser forte, dura e muito dedicada, enquanto desdobrava-me em investigações sobre este novo tema na minha vida, paralisia, um bebé na família com toda a novidade que isso acarreta, educação e correrias de terapias em terapias.
Muitas vezes ler aqui aqueles comentários da pena, não ajudavam.
No fundo quis muito que entendessem que nós temos um lugar. As mães dos meninos com deficiência também podem ser felizes. Felizmente, hoje já não há grande pudor em partilhar estas experiências.
Os deficientes têm um lugar na sociedade.
Agora até temos um deputado na assembleia da república para lembrar, a esta sociedade, que os deficientes existem e têm direitos.
E os deficientes gostam de fazer basicamente o que todos os outros fazem: ir ver futebol, aprender, ir ao parque, ir passear, almoçar fora, fazer compras e até namorar, sem que essas experiências tenham de ser frustrantes e terminem de forma desagradável, porque a "maioria normal e perfeita" nem se lembrou que os deficientes existem.
Eu nasci perfeita e nunca fui grata suficiente por esse facto. Mesmo sabendo que a minha mãe, quando engravidou, tomava medicamentos fortes que me poderiam ter causado más-formações.
Ela arriscou e eu cheguei assim...sem nada para me queixar, relativamente ao meu corpo.
Custa-me não ter um filho com as mesmas oportunidades de todos os outros.
A oportunidade que eu própria tive.
Dói muito pensar que ele venha a sofrer.
No entanto, ao longo destes 10 anos, percebi que ele tem muitas coisas a seu favor.
É inteligente emocionalmente e estabelece relações fortes e de grande proximidade com os pares e adultos.
Vamos ver, o seu pequenino mano, apenas com 3 anos e meio, também tem os seus sofrimentos.
Só que este sofre para dentro.
E começou mais cedo que o JP. E, por vezes, preocupo-me bastante com isso.
Mas o sofrimento faz mesmo parte da vida. Das crianças, dos adultos.
Intercalamos, felizmente, com bons e memoráveis momentos maravilhosos que tentamos que sejam muitos.
Na escola do JP, as coisas estão a correr mais ou menos bem. Ainda nos estamos a ajustar, mas vejo todos colaborantes. Tem auxiliar para ele, dedicada, os professores empenhados.
Ele tem tido entusiasmo, disciplina e tem andado animado.
Também gosta de esticar a corda e tentar quebrar algumas regras. Acho que faz parte da idade.
O blogue devia ser agora para registar tantas coisinhas fofinhas que o Rafa tem, mas o tempo nem sobra para nada. O pequenino reclama por doses maciças de atenção.
Entre trabalho, supervisão dos TPCs do JP e tudo o que uma vida família acarreta, chego à noite K.O.
Mas há coisas verdadeiramente deliciosas.
Acho delicioso o Rafa pedir para pôr o Kung-fu Panda e chamar-lhe "panda tau-tau"...
Acho delicioso tanta e tanta coisa que irei certamente esquecer. Apetece filmar tudo, pôr um "pause"...passa rápido demais.
Não sei se os melhores anos estarão para vir, mas estes apesar de difíceis, são muito especiais.
Tenho meninos maravilhosos e adoráveis.
Estou grata. Apesar de tudo.