O João Pedro trouxe várias missões de vida, quando nasceu. Uma foi ensinar-me a viver o momento presente, porque focar-me nas ansiedades do futuro era, e ainda é, muito penoso.
Mas também mostrou-me como colocar, em perspetiva, tantos problemas e saber relativizá-los.
Se antes dele nascer, eu gostava tanto de viajar (e ainda gosto) quase, pode-se dizer, que trabalho muito para depois aproveitar tudo nas férias....adoro!
Agora coloca-se sempre o problema se o destino será acessível. E mesmo quando vou a algum lado sem ele, os meus olhos, buscam, constantemente, as possíveis barreiras arquitetónicas ou, pelo contrário, a confirmação que ali eu poderia ir com a minha família.
São estes os nossos problemas ? Claro que não.
Estes são pequenos contratempos. Os mais pequenos.
É verdade que é chato não poder subir Machu Picchu, ou muitos locais paradisíacos ….não sei como o faria com o João Pedro para lá ir, mas a verdade é que já é um luxo ter uma casa onde consigo transportá-lo de elevador (mesmo que já não esteja adequada às nossas necessidades) e já é uma benção ter ido há 2 anos a Menorca e ter umas férias, sem contrariedades de maior.
Consigo viver sem realizar muitos desses sonhos, tendo a consciência que já sou afortunada.
Problemas são as famílias de miúdos com deficiência não conseguirem ter uma vida normal, e até, dificilmente, realizar dinheiro para estes problemas maiores (viajar), quando têm limitações na ajuda nas escolas, habitação e apoios. Não há quem possa dar o almoço na escola ao meu filho. Limitações do Covid, imagine-se.
Quem tem aulas de manhã, leva o almoço para comer em casa. Quem vem de tarde, venha almoçado.
O meu filho, mesmo que trouxesse o almoço, não o consegue comer, autonomamente. E na ida, idem.
E claro, sai demasiado tarde para conseguir que, na instituição onde passa o tempo, consigam encaixar nas dinâmicas.
Tem aulas, uns dias de manhã e outros de tarde. E quem fica com ele ? Como é possível simplesmente ignorar que os pais precisam de trabalhar ?
Nem todos se querem encaixar no perfil de ficar em casa como cuidadores, até porque gostam de uma vida ativa, boa para a sanidade mental de muitos de nós.
Eu tenho um horário flexível, assim como o pai, mas isto não implica flexibilidade, mas quase deixar de trabalhar muitas horas ou não trabalhar de todo. Não há ninguém que veja isto ?
Sim, sei que existe o CAVI. Centro de apoio à vida independente. Infelizmente não há ninguém que seja candidato.
Quantos de nós sabemos agradecer o pouco que temos, mesmo que seja ter um filho (como o meu mais novo) com autonomia para comer uma refeição ?
Um dia uma médica de família disse-me quando o meu JP ainda era bebé: a sociedade vai tentar engolir-vos se vocês o deixarem.
E eu sabia que era verdade.
A foto dos meus pikis em Menorca
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