terça-feira, setembro 30, 2014

Houve um dia que deixei de ser boa mãe (e não foi fácil)

O medo de que os nossos filhos sofram é pior, ainda, que o próprio sofrimento
Não há como não admitir que, como pais, somos os primeiros a ter pena da condição do JP e de tentar compensá-lo, de diferentes formas.
Enquanto era fácil, não havia nada que não fizesse com o JP. Experimentou atividades enriquecedoras. Usava os brinquedos dos parques infantis, com muita ajuda e imaginação, mas todas as semanas lá ia.
Atividades giras, lúdicas, andar em transportes, canoagem, jogos, insufláveis, festas…, em tudo era incluído. Desejei-lhe uma infância mágica, feliz, marcante.
Era o nosso único. Levezinho que nem uma pena. Com 5 anos ainda pesava 13,5 kgs.
Tinha todo o tempo, paciência, prazer, para descobrir e experimentar este maravilhoso mundo com ele. E para fazer questão que vivenciasse tudo a que tinha direito.
E, obviamente, ele tornou-se exigente. Gosta de participar em tudo. Tem sede de novidades. Não aceita bem ser excluído.

Se obtivemos alguns aspetos que é claramente positivo, por exemplo, ele também faz questão de apresentar, orgulhosamente, os seus trabalhos na escola, como os outros, e ser responsável por tarefas, na sala de aula, noutros tive de começar a refrear. 
O mundo lá fora não é a mãe, o pai e a avó, que fazem tudo com ele e que, mesmo cansados, lutam para que se divirta como os outros. No mundo lá fora, há quem se encante com ele, claro que há, mas nem todos conseguem aguentar o ritmo das exigências. 
Há até quem nem pense numa colónia de férias onde o possa levar… a própria natureza não pensou na sua condição :(
De qualquer forma, as exigências já são, de si próprias, despropositadas, para a idade dele. Por isso, enquanto outras pessoas ainda queriam fazer-lhe as vontades, há cerca de ano e meio, comecei a deixar de fazê-las. Conversando e explicando. 
Por mais que me custe, ele tem de entender. Ele é magro. Tem cerca de 21 kgs, mas como qualquer criança, tem uma energia muito superior à nossa.
Nem todas as auxiliares, nem todas as professoras, nem todo o mundo lhe fará as vontades (nem mesmo as comunicativas) e ele tem de aceitar ou correrá o risco de se tornar ainda mais desajustado ao nosso mundo.
E doí no coração ? Muiiiito. Uma dor indescritível.
Está correto ? Quem tem certezas de tudo ? Quero acreditar que sim.
Todos nós temos, diariamente, frustrações de todo o género. Sempre o poupei de excessivas frustrações porque sempre achei que a sua condição já lhe causava frustração suficiente. Mas hoje entendo que, em tudo, temos de ter um ponto de equilíbrio e não os podemos proteger da dor e da tristeza, mesmo na infância.
Há certas coisas que são tão importantes que temos de descobrir sozinhos.
Houve um dia que tive deixar de ser aquela boa mãe...e já foi tarde

O nosso pequenino já teve a sorte ou a infelicidade de ter uns pais mais seguros e mais rígidos. É agora a hora de ouvir os "nãos". É hora de ser contrariado e de aceitar o nosso veredito. E, por vezes, parece aceitar, de facto, muito melhor que o mais velho.

No entanto, com a força do nosso amor podemos mudar o nosso destino
Amor não lhes falta, nunca faltará. 
Vamos construir e viver esta vida difícil, mas muito abençoada que temos. Haja saúde e estou certa que ele perseguirá sonhos e será feliz.

2 comentários:

Mina disse...

É uma experiência normalíssima, de uma mãe consciente.
É natural, haver maiores "cuidados", com os filhos mais velhos, ainda para mais, quando eles nascem com uma condição especial, sempre ouvi dizer que os mimos, não são demais.
Mas também são precisas a regras ( e nisso, não sou boa conselheira ), e só perdi com isso, não aprendi com primeiro, e apliquei no segundo, que teria outra facilidade, mas a mania de não quer diferente, também ela foi demasiado protegida, e os resultados , não nada fantásticos " Já minha mãe dizia:"mãe zelosa, faz a filha preguiçosa" ;), acho, que das gerações :)
beijinhos és uma mãe fantástica

A Senhora do Trevo disse...

Muita força. Beijinhos :))