Lembro-me de ser pequenina e querer uma “ Tucha”. No meu tempo não me recordo de existirem as Barbie’s ou pelo menos, as bonecas da moda eram as Tuchas. 
Em tudo semelhantes às Barbie’s de hoje.
Os meus padrinhos ofereceram-me a primeira Tucha
Ora, o habitual era serem louras, sempre esbeltas com cabelo comprido para os penteados. Não sei se foi para serem didatas, ou porque estava em promoção ou ainda se era a única que havia, mas recebi num Natal nos anos 70 uma Tucha negra, com uma grande cabeleira lisa ( o que fazia as minhas delícias). Eu não tinha noção que poderia ter uma, (porque eram caras) por isso quando recebi fiquei eufórica. Pus-me logo a brincar, a vestir e despir e a fazer penteados.
O que mais me surpreendeu foram os comentários que se seguiram de alguns amigos/ amigas que frequentavam a casa. Não perguntaram se eu tinha gostado, mas, rapidamente, teceram críticas ao facto de ser escura e lamentaram a “ minha falta de sorte”. Com 5 anos não entendi nada porque viam as coisas dessa forma e porque surgiam os comentários .
Mas magoava-me . Porque gostava da minha boneca. Era minha. Na altura era minha “ filha”.
Hoje olho para trás e vejo que não foi nada mais que uma preparação para a vida. Ensinaram-me desde pequenina a amar o que é meu, como é e como vem e a revoltar-me contra todo o tipo de injustiças.
Porque não é a cor da pele , uma deficiência ou qualquer outra característica que me apanhasse de surpresa, que me iria deixar de fazer amar, de ver a beleza da minha boneca e de brincar e ser feliz com ela.
Felizmente hoje também pouco ligo ao que dizem.
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