terça-feira, março 04, 2014

Falar quando não é preciso

Este blogue começou há quase 8 anos. 
Nos primeiros tempos fiz amizades, por aqui, nos blogues que duram até hoje. 
Uma das pessoas que me seguia (e eu a ela) tinha uma vida absolutamente normal mas mostrava imensa sensibilidade. 
Mora longe, mas estamos sempre em contacto pelo Facebook. 
Nunca a conheci pessoalmente, mas sei que ela é boa pessoa e tem sempre uma palavra amiga para mim. Por isso, sempre me "colei" à sua energia positiva.

Quase 8 anos depois de ter tido o mais velho, avançou para uma segunda gravidez.
Não sei muitos pormenores a não ser que ela estava feliz e era uma menina. Não sei bem porquê, gostei imenso de saber da notícia pois quase já achava que o seu menino ia ser filho único e esta surpresa deixou-me feliz.
Infelizmente, já na data do termo, a menina faleceu julgo que na sua barriga. 
Não imagino a dor. É que não imagino MESMO.
Ela é tranquila. Mas feliz não está com certeza.
Acredito que neste momento procura imensas explicações, acredito que esteja revoltada. Acredito que sinta que houve uma tremenda injustiça, para com ela, e para com aquele bebezinho que tinha na sua barriga.


Hoje escreveu um post no facebook manifestando muita revolta com o que as pessoas diziam para a confortar, relatando,  para isso, casos muito piores...(imagino os relatos, como meninos com deficiências, etc) ….Como, se por acaso, ela ainda fosse uma sortuda. 
Tentam relativizar, contando casos bem piores.

De facto, nestes dias todos, pouco mais do que dizer-lhe para ter força terei conseguido.
Mas sei do que ela fala. 
Quantas pessoas não me falam e falaram de casos piores do que a deficiência do JP para me confortar, como se isso me confortasse ? 
Sim, claro que se o JP tivesse uma daquelas doenças galopantes eu estaria muito mais angustiada, mas naquela altura nada disso fazia sentido. 
Nem continua a fazer sentido, sentir-me melhor, com as dores dos outros.

Quantas me aconselharam a ter mais bebés para conhecer "as alegrias da maternidade" ? E o JP não mas deu???
Confesso que sinto sensações diferentes com o Rafa, na sua maioria muito boas.
Mas continuam todas cá...tanto as boas como as menos boas que tive com o JP. Pouco mudou.
Só acrescentou a "descentralização" do pensamento e essa sim,  é muito positiva.

Só quem passa por elas é que sabe, mas relato de desgraças não conforta absolutamente nada.
Sei que fazer-nos relativizar não é feito com maldade. A intenção é, principalmente, boa. 
Eu nem sou das que leva mesmo muito a mal porque também digo muita "porcaria" e entendo.
Às vezes a ansiedade de ajudar a animar é tão grande que só fazemos asneira.

Mas não cai bem. E aprendi também eu, que sabe tão bem apenas que nos ouçam e nos deem uma pequena palavra de esperança. Só isso. Nada mais.


2 comentários:

Maria Osório disse...

Como eu te entendo e compreendo...

Ainda hoje há pessoas que me dizem "mas a Trissomia do Tiago é leve, mal se nota" ou "olha há situações piores"...de facto não cai nada bem ouvir estas cosias. Primeiro, pq não interessa que se note muito ou pouco a Trissomia do Tiago, ele tem e ponto final! E só o facto de ter Trissomia já é um "problema" que o afeta a ele a nós, em tudo na nossa vida. Há casos piores, pois é há piores, mas não é por saber que há casos piores que me deixa mais confortável, pelo contrário, sinto tristeza por saber que há casos piores e que há famílias que a vida não deu uma volta de 180º mas sim 360º...

Ás vezes é mesmo só isso que precisamos, do conforto de palavras que nos acalmem a almo e não de comparação...

Beijinhos grandes para ti, adoro vir te visitar, revejo-me em tantas situações idênticas...

P.S. Tenho muitas tampinhas em casa :-D

Helena Barreta disse...

Por vezes um abraço, uma mensagem, o saber-se que o outro está ali com um ombro amigo a ouvir o que se quiser dizer ou simplesmente chorar também, é realmente melhor.

Quando me despedia do meu marido, uma vizinha dos meus sogros disse-me: "não chores", passei-me, dei-lhe um safanão e pensei como é que me podem dizer para não chorar?

Um abraço