quarta-feira, setembro 05, 2012

Das férias - I Incidentes infelizes

Como mãe, tenho noção que as minhas palavras têm muito poder e impacto na percepção que os meus filhos terão das suas forças e fraquezas. Tenho plena consciência de que as minhas constatações e atos podem afetar, profundamente, a forma como eles verão o mundo. Tenho, principalmente, cuidado e atenção às conversas com o JP e à forma como o motivo. Terei também a seu tempo, com o Rafael. Mas, sem dúvida, considero o JP, um caso atípico e aquele em que terei refletir mais. Mas não consigo controlar tudo o que lhe dizem. 
Nas aldeias das Beiras, toda a gente olha e mete conversa. Num desses dias, logo após o almoço, vínhamos contentes os quatro, pelas ruelas estreitas e sinuosas, quando fomos abordados por uma senhora, dos seus 50 e poucos anos.
Aproximou-se e disse assim em alto e bom som "Ah, este é que é o menino Doentinho ?". Eu, mãe,  tal, fera ferida, cortei a conversa, antipaticamente. 
Disse "- Não, não, graças a Deus até tem muita saúde. Nasceu foi com uma paralisia cerebral que o impede de andar". 
Arregalei os olhos e continuei "- e mais, é inteligente e percebe TUDO o que lhe dizem"...(para que se calasse de vez).
A senhora continuou :"Não leve a mal. Eu também tenho uma netinha pequena assim" …e a conversa continuou até eu perceber o desconforto do JP. Cortei a conversa e fui embora, sem sossegar a senhora, e com um miúdo, visivelmente, agitado. A senhora não fez por mal. Longe de mim, pensar isso...mas não foi bonito e quase que nos estragou uma tarde.
Quando chegámos a casa, desatou num berreiro, com perguntas, porque tinha paralisia, porque o mano não tinha, o que tinha acontecido....entre berros e choro.
E eu a tentar manter a tranquilidade e calma interior, para transmitir essa serenidade. Abraçava-o e expliquei de modo simples. Mas não foi fácil sossegá-lo. Até porque o pequenino de ouvir o grande a chorar, também chorava.  Depois tivemos uma conversa a quatro, com muitos abraços e beijinhos. Que gostamos muito dele assim como ele era. E não só nós. Que era especial. Nada mais importava. Sossegou. Parece ter esquecido. Mas não esqueceu e há-de voltar. Só espero que faça um esforço para se aceitar, porque nada mais lhe resta, senão confiar nele. Ele realiza tantas coisas, mesmo com as dificuldades motoras que tem...mas há gente que, sem dificuldades algumas, não realizam nada. Tem de aprender a confiar nele. Devagar se vai ao longe e ele trilhará o seu caminho também. 

Outra situação foi  num dia em que o JP decidiu fazer uma birra a entrar para o carro, com muito choro e lágrimas. Típica de quem não consegue comunicar bem e que sente revolta por isso. E uma senhora disse, mesmo em frente a ele " Oh pais, então, têm de ter paciência...esse é assim...o pequenino Rafael é este amor e vai-vos dar muitas alegrias, pelos dois, vão ver". 
Mal humorada arranquei-lhe o Rafael do colo e não disse mais nada, pois era amiga da minha sogra.
Quando chegámos a casa, fartei-me de gozar com a senhora. O JP ria. E quero ensiná-lo a rir destas coisas...no dia seguinte fomos aos cavalos e voltámos a gozar com a senhora e com o que ela disse. O JP soltou gargalhadas boas e com sentido de humor. 

Haja paciência, para ele, para mim...para todos, que há gente burra .



8 comentários:

Maria do Mundo disse...

Há pessoas que não têm o mínimo do sentido de oportunidade!

umserespecial disse...

Helena. compreendo perfeitamente aquilo a que se refere. A minha Princesa ainda é muito pequenina e não percebe mas sempre que penso no futuro receio que situações destas a possam afectar. Nós não podemos controlar tudo e nem queremos.... mas estes comentários são sempre desagradáveis. Eu sou de uma aldeia pequenina onde todos se conhecem. A minha mãe mora lá e como tal vou lá com bastante frequência. Nunca escondi os problemas da minha filha e sempre fui bastante aberta afim de evitar especulações. Sempre expliquei ás pessoas, mesmo as de mais idade, qual o problema da Maria. Mas é inevitável... cada vez que lá vou alguém me vem perguntar: Olhe a sua menina já está boa? Deixe lá que tudo vai passar.... Enfim, haja paciência. Temos que dar a volta à situação e rir destas coisas. Beijinhos

Maria João disse...

Que gente mal formada!!!

A diferença ainda é um tabu, infelizmente!

Valha-nos o teu JP que é uma criança super inteligente e conseguirá superar todos esses tristes comentários com a ajuda da maravilhosa família.

Haja paciência...

Bjs,
MJ

Grilinha disse...

Serespecial, nós tb nunca escondemos o JP...pelo contrário...mas a senhora pelos vistos ou antes não tinha dado importância e deu agora...ou como só vamos 1 a 2 vezes por ano, pura e simplesmente não nos conhecia. Sei que não fez por mal, mas não entendeu que o JP percebe tudo e não gosta de ser chamado de "doente"... Muita paciência para ti, tb ! Tem de ser...

Grilinha disse...

Maria João: espero que sim !

Florguerreira: nem mais !!!

Anónimo disse...

É...

Julgo que a Senhora não fez por mal, é a mentalidade do "doentinho", que infelizmente, não muda... Passam os anos e as cabecinhas não dão para mais.
A nossa geração já está melhor, mas a anterior, às vezes, é um desastre.
"Deixa sentar a manquinha", também já ouvi.
Quando se é pequeno é muito duro. Hoje, por vezes, rio na cara das pessoas, porque a cara delas é muito engraçada.
Parece que somos uns seres de outro planeta. Uns arregalam os olhos, outros perguntam.
Digo sempre que é um assunto meu, mas que agradeço a preocupação e arrumo a questão.
Um dia ele vai saber dar a volta ao assunto.
Eu estive na Alemanha, em Inglaterra, tratam as pessoas com respeito, ajudam, mas nunca fui tratada como uma pessoa "doentinha", nem me chamavam " "manquinha" como aqui. Que fazer??

Beijinhos
Joana (Porto)

Lu disse...

Aff! Que paciência há de precisar. Sugiro que seja bem direta sempre: meu filho nao e doente e, portanto, dizer isso perto dele o irrita. Assim e pronto. Seus filhos sao lindos. Beijos.

Sexinho disse...

Tu és graaaaaande!